domingo, 8 de novembro de 2009

As bibliotecas dos Liceus
e os seus bibliotecários

A propósito dos Cem Anos do Liceu Camões

Vi no Portugal em Directo, de Dina Aguiar, a reportagem sobre o centenário comemorativo da inauguração do Liceu Camões no local onde está hoje (16OUT09), depois de andar em bolandas, desde a sua instituição por Carta Régia de 24MAI1902.
Vi os ex-alunos/«personalidades» actuais convidadas desconhecerem o acervo bibliotecário do Liceu que frequentaram. E aquela biblioteca estava lá, mas lá longe...
A minha vivência como aluno pré-universitário e depois como professor, causa-me certas perplexidades, perguntas e propostas para os actuais professores universitários e seus mestrandos, que passo a enunciar:
1. A biblioteca do antigo Liceu Dom João de Castro tem um fundo bibliográfico espantoso (1962).
1.1. Como aluno, estudei e li nesta biblioteca Duarte Leite, Jaime Cortesão e outros para debater numa aula do professor Francisco José Paixão o tema os Descobrimentos Portugueses e o infante Dom Henrique...
2. Como professor constatei que as bibliotecas da Escola Comercial e Industrial Alfredo da Silva (Barreiro, 1969), Passos Manuel e Filipa de Lencastre (1974) eram notáveis no seu acervo bibliotecário, tal como no Liceu Camões.
Nesta entrevista/reportagem sobre o Liceu Camões referiu Júlio Isidro que «os de Letras, já tinham as raparigas nas turmas», mas, acrescento eu, na sala de turma, elas sentavam-se na frente e nós atrás e nos intervalos nada de nada nos corredores e elas iam para o «Gineceu». Por isso houve revolta no Dom João de Castro (1961-1962). Na biblioteca da Alfredo da Silva os alunos estavam proibidos de consultar «O Primo Basílio»... e as professoras não podiam usar calças, pintar as unhas, nem eu fazer exames orais de manga curta ou vigiá-los sem bata...
É neste ambiente de censura comportamental e cultural que estas bibliotecas têm o acervo de obras clássicas que têm. Proibidas ou não pela censura salazarista/fascista elas estavam lá e daí a minha perplexidade. Quem foram estes homens, estes intelectuais/burocratas, que nas suas encomendas bibliotecárias iludiram a malha da censura fascista e constituíram bibliotecas espantosas nos velhos liceus?
Senhores professores das Ciências Sociais: - anda por aqui um qualquer mistério histórico, que precisa de ser esclarecido com várias teses de mestrado e consulta/pesquisa nos arquivos mortos destes liceus e diários da República...
Bem hajam...

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