sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

A Grande Mestiçagem

Gostei de ler este título de Ana Gerschenfeld para o P2, de 5DEZ pp. «Os genes contam a história». a propósito de um estudo publicado pelo American Journal of Human Genetics, «O Legado Genético da Diversidade Religiosa e da Intolerância: linhagens paternas dos cristãos, judeus e muçulmanos na Península Ibérica». Sempre ensinei aos meus alunos isto mesmo e sempre disse aos meus colegas professores de História, que não nos poderíamos esquecer da Inquisição em Portugal, das suas perseguições e das suas nefastas consequências nos nossos avanços científicos, num país de Descobrimentos... Adiante...
Passo para a conclusão da jornalista, que remete para João Lavinha, um dos colaboradores do estudo, do Departamento de Genética do Instituto de Saúde Ricardo Jorge. «Em média, os homens ibéricos actuais têm 20% de ascendência judia sefardita e 11% de ascendência magrebina. É mais do que se esperava, mas é em relação aos judeus sefarditas que as proporções são «enormes». Em média 35% dos homens no Sul têm genes sefarditas e no Norte 25%.Os cristãos-novos são uma realidade. Muita gente não fugiu, nem foi expulsa; misturou-se. Nós não temos essa noção, mas eles sobreviveram à intolerância religiosa.»
Espanta-me que neste estudo não haja traços das linhagens dos «homens pretos», seja, dos escravos negros que trabalharam no Alentejo ou eram criados em casas de criação de Lisboa para venda e que nesta cidade segundo relatos publicados no século XVI, seriam cerca de 10% dos habitantes da capital e também classificados segundo as suas capacidades de desempenho no trabalho ... Há ainda hoje vilas com a designação de A-dos-Negros e, em Lisboa, o Poço dos Negros...

Começo por este tema e resumo

«Homens Pretos»

«Eu El-Rei faço saber, que, havendo respeito ao que por sua petição me representaram os homens pretos, Escrivão, Juiz e mais Officiaes da Irmandade de Nossa Senhora, sita na Igreja Matriz da Villa de Moura, em razão de que eu fôra servido conceder aos homens pretos da Confraria de Nossa Senhora do Rosário sita na Igreja do Salvador desta Cidade, licença, para com suas vestes, e imagem da mesma Senhora, poderem pedir e tirar esmolas, nos Domingos e Dias Santos, pelas ruas; e assim mais lhes conceder a faculdade para resgatarem os Irmãos escravos, que os senhores quizessem vender para fora do Reino, ou lhe dessem máu e injusto captiveiro; e por concorrem nelles supplicantes as mesmas razões para se lhes conceder a própria graça (...) – E visto o mais que allegaram, e informação que sobre
estes particulares mandei tomar pelo Corregedor do Cível desta Cidade, José da Cunha Brochado, e Pedro Telles da Silva, Provedor da Commarca de Beja, e resposta do Procurador de minha Corôa hei por bem que os supplicantes possam pedir(...)
Thomaz da Silva o fez, em Lisboa, a 13 de Agosto de 1689. Francisco Pereira de Castello Branco o fez escrever.= REI

Liv. LVIII da Chancellaria Real, fol. 48
Em Andrade e Silva, 1689, págs. 195 e 196

Quanto aos magrebinos, escravos mouros

Eu EL-REI faço saber aos que esta minha Provisão virem, que, por haver sido informado que, sem embargo do que dispoem a Ordenação sobre meus Vassalos não poderem ter escravos mouros, ha grande quantidade delles em todas as Cidades, Villas e Logares destes meus Reinos; e convir a meu serviço que as Galés que servem neste porto e as que tenho mandado fabricar de novo nelle se chusmem, em forma que possam ser úteis.(...)
Hei por bem e mando (...), que toda a pessoa, de qualquer qualidade e condição que seja, que tiver escravo mouro, o registe em termo de dez dias; e passados elles, não mostrando licença minha para o poder ter, lhe seja tomado para servir nas Galés – e aos que o manifestarem se lhes pagará pelo preço que declara a Ordenação.
Pelo que mando (...)
Pantaleão Figueira a fez, em Lisboa, ao 1.º de junho de 1641. E eu Francisco de Lucena a fiz escrever.— REI
Vid. Provisão de 31 de Maio deste anno.
Liv. IX da Supplicação, fol. 277 v.

Andrade e Silva, 1645, págs. 459 e 460

Homens da nação hebréa

EU El-REI faço saber aos que este Alvará virem, que, havendo respeito ao que na petição atraz escripta dizem os Officiaes de tenda aberta, moradores na cidade de Tavira, e da segunda condição; e visto as causas que allegam (...) hei por bem que d´aqui em diante nenhum homem da nação hebrea da dita segunda condição entre na eleição dos Mesteres da dita Cidade, nem sirva de mester do Povo: e para que a dita eleição se faça como convem, assistirão nella quatro homens mais dos ordinarios, em que não haja suspeita, e que serão Irmãos da Casa da Misericordia da dita Cidade (...)
Manuel Gomes o fez, em Lisboa, a 7 de Outubro de 1649. João Pereira de Castello-Branco o fez escrever. = REI
Liv. XV da Chancellaria, fol. 254 v.
Andrade e Silva, 1649, págs. 52 e 53

Alvarás e Provisões recolhidos da obra de José Justino de Andrade e Silva, Collecção Chronologica da Legislação Portugueza, Lisboa, Imprensa de F. X. De Souza.
Apenas publico estes documentos.
João Lavinha: parece-me que temos documentação e estudos históricos que sustentam a evolução genética do nosso povo... Só não percebo a ausência genética dos homens pretos no vosso estudo ...

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