quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Wiriyamu
Saúdo a reportagem de Joaquim Furtado sobre o massacre de Wiriaymu.
Já era tempo. Recordo que o depoimento de Hastings e relatos do acontecimento foram publicados pela editora Ulmeiro de José Ribeiro que foi incriminado por publicação subversiva, já em tempos marcelistas.
Na messe de oficiais de Nampula, meses antes do 25 de Abril, já havia sinais de descontentamento, que, por vezes, aflorava em cantorios... Nos serviços de Justiça do Quartel General estavam ex-dirigentes académicos da Faculdade de Direito de Lisboa, como João Seabra Lopes, Manuel Roque, Nuno Brederode dos Santos... Sabia-se que o relatório sobre Wiriyamu estava fechado a sete chaves no «cofre do coronel». Em Nampula, dias depois do 25 de Abril cheirava que se fartava a papel queimado... Espero que o relatório sobre Wiriyamu tenha sido preservado. Talvez o major Tomé ou o capitão Afonso saibam qualquer coisa...
(A minha Companhia estava sediada em Muaguide e a zona operacional abrangia o Sitate, aldeamento modelo de Kaulza, Mocimboa da Praia e Macomia a Norte, Ancuabe a Sul, quartel dos comandos a Oeste. No Sitate dei algumas aulas de português, mostrei o mapa de Moçambique e as suas riquezas. Durante uma prelecção de sala cheia, uma voz feminina interrompeu-me e disse: «meu alferi é a psicola»! Tínhamos um médico, o alferes Caldeira, madeirense e grande companheiro. Também distribui comprimidos para combater o paludismo... Mas a guerra é a guerra. Sofri uma valente emboscada... Quando em Março de 73 saía da Companhia a caminho da Berliet para vir de férias, apresentava-se ao capitão um pelotão «comandado» por  dois furriéis, que expunha a captura de uma ou duas «kalachs» e mais duas orelhas e um nariz cortado aos combatentes da Frelimo... (Auto de corpo delito por crime de guerra.)
Aguardo por um cineasta capaz de ficcionar estes acontecimentos e outros no contexto da guerra colonial e do regime salazarista/fascista.

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