Referendos e democracia
A instalação da democracia não
foi referendada. A democracia foi instituída revolucionariamente nos EUA em
1787 e na França em 1789. E da democracia censitária ao voto universal
masculino na Europa passou muito tempo. E o direito de voto universal das
mulheres levou ainda muito mais tempo. A democracia europeia assegurou os
direitos à representação política das minorias (Montesquieu (1689-1755) e
nenhum destes progressos na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão
(1789) ou na Declaração Universal dos Direitos
do Homem (ONU 1948) foi referendado.
É curioso que em entrevista a
Paulo Magalhães, na TVI 24, Dom
Manuel Clemente, cardeal patriarca de Lisboa, tenha afirmado, a propósito do
referendo à coadopção por casais homossexuais, que «a diferença tem de ser
tratada de modo diferente» e portanto há que haver um referendo para aceitar a
diferença». É um apartheid que tem de ser referendado. Mandela nada
representa para o nosso cardeal e Luther King também não.
E quanto ao resultado do
referendo na Suíça?
Os povos pastores da Suíça sempre
gostaram de referendos. Entre 1845-1847, Suíça atravessou uma guerra civil religiosa e
cantonal, mas conseguiu uma confederação que assegurou a liberdade religiosa (protestantes,
católicos), o reforço do federalismo e o crescimento económico. Foi na Europa o
último país a instituir o direito de voto às mulheres (1971).
Há dias os cantões suíços alemães
e rurais contribuíram significativamente para a vitória do sim às restrições da
emigração, impondo quotas.
O governo suíço vai ter de
legislar a opção deste referendo. E a livre circulação das pessoas na Europa e
o acesso ao mercado único europeu, que constam dos Tratados? Não há sol na
eira, nem chuva no nabal!
Democracia representativa,
democracia directa?
«A democracia serve para
estruturar o pluralismo (...) não há nem pode haver, uma única forma de
estruturar o pluralismo», Rui Tavares
em Consoante muda.
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