quarta-feira, 18 de abril de 2012

Gente humilde

Boaventura de Sousa Santos e Manuel Carvalho da Silva vão criar um Observatório de Crises e Alternativas. Há também um Observatório das Desigualdades no ISCTE.
Chamo a atenção destes observatórios para as declarações obtidas pelo jornalista Roberto Dores junto dos familiares das vítimas da derrocada no mercado do Livramento de Setúbal (DN, 9ABR).
Cito e resumo para contextualizar a conjuntura social e psicológica das famílias:
«Ainda nem nos perguntaram se precisamos de alguma coisa».
Este depoimento é anónimo. Outros familiares também não quiseram aparecer em público...
Os familiares dos carpinteiros de tosco não se conhecem. Vivem em locais dispersos e longe das residências dos sinistrados. Reconhecem que se se conseguissem organizar talvez garantissem mais poder reivindicativo, «mas sem dinheiro e sem advogado como é que se consegue alguma coisa? Somos gente muito humilde», dizem «Juntar estas famílias é muito complicado», comenta alguém.
Conclusões
1. Estes familiares das vítimas têm medo. 1.1. depõem sob anonimato. 1.2. não querem visibilidade pública. 1.3. não conhecem os seus direitos. 1.4. se os conhecessem não teriam meios para os exercer.
2. Consciência social difusa, dispersa e passiva, acentuada pela dispersão física/habitacional. 2.1. a organização das pessoas aumenta a consciência social, salientam alguns.
3. Esta gente humilde não tem acesso à NET, nem talvez aos números de telefone das outras vítimas. 3.1. Também não recorrem à intervenção dos sindicatos, muito embora reconheçam a necessidade de organização para reivindicar.
4. O 25 de Abril alterou a estrutura política do país, mas não alterou a estrutura do comportamento mental e social que é de longa duração.
Foram dezenas de anos de Salazar e Cerejeira e hoje Fátima ainda perdura.
E o povo é sereno e resignado. Queira ou não a CGTP.
O que fazer Albano Ribeiro do Sindicato dos Trabalhadores da Construção (STC) e Arménio Carlos da CGTP?
Aqui não há greve geral, há intervenção social concreta.

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