Vamos lá ver se nos vamos entendendo
A entrevista de Zita Seabra a Judite Sousa
1. Em fim de entrevista disse Zita Seabra a Judite de Sousa que «o PCP é hoje um sindicato de pequenas causas». O PPD/PSD, a que depois aderiu, deve ser um partido de grandes causas, entre elas a da implantação do capitalismo global... Quanto a pequenas causas recordo que na bancada parlamentar do PCP foi a paladina da intervenção voluntária na gravidez (IVG)... Na bancada do PPD/PSD a grande causa foi a «defesa da vida» e o ataque cerrado à IVG..
Depois de tantos anos de clandestinidade e de ascensão meteórica até ao Comité Central (CC) do PCP, talvez por razões funcionais e familiares, Zita Seabra acaba por dizer que hoje o PCP é «um sindicato de pequenas causas.» e que durante a clandestinidade foi «uma mulher-a-dias do PCP (DN8JUL07).
A propósito, recordo Camões: «Ditosa pátria que tais filhos teve».
2. Parece que Zita Seabra e outros que jantavam lá em casa às quartas - feiras só se aperceberam das contradições do PCP em se democratizar interna e externamente por volta de 1988, muito embora Zita e talvez os outros tivessem notícia de que outros camaradas já tinham sido expulsos em 1982-1983. Da Juventude foi expulso o jovem Pinto, por volta de 1983, conforme declarações ao Jornal de Letras. Distinguiu-se depois na banda desenhada «Tecnologia de Ponta». Zita não soube de nada pelos vistos...
Referiu Zita Seabra que o PCP não queria eleições em Abril, mas só as conseguiu adiar até 25ABR74. Esta discussão foi transversal ao PCP e «alguém» publicou em «O Século» alguns artigos a propósito. O resultado destas eleições foi um desaire para o PCP, até que em determinada altura se resolveu avançar com um reforço do movimento Povo/MFA, através dos Soldados Unidos Venceremos (SUV). O PCP contraiu uma doença infantil e entrou numa salganhada esquerdista que iria durar até Novembro. A partir daqui os dados estão lançados. Numa reunião em O Século, realizada pouco dias antes do golpe-antigolpe, e presidida por um suplente ao Comité Central, alguns militantes colocaram dúvidas sobre o caminho percorrido e a percorrer. A resposta foi que a revolução democrática e burguesa já lá ia e vinha aí a verdadeira revolução. Conclusão da reunião: «vamos então encher o saco ...»
Na entrevista diz Zita não ter compreendido a desmobilização dos estudantes, alguns armados nas suas casas/centros? E os outros militantes comunistas e simpatizantes concentrados nos Centros de Trabalho, que recebiam ordens contraditórias e que também acabaram por ser desmobilizados? Foi uma grande noite nos centros do PCP e nos dos PS... Otelo não aderiu, os para-quedistas acabaram por falhar e por aí fora... Não sei se Cunhal aterrou nessa noite em Lisboa, mas que não teve o apoio de Brejnev para a aventura não teve. Cunhal não era Trotski, nem Lénine e a frota da NATO navegava ao largo... Cunhal vislumbrou a derrota e recuou a tempo. Assim garantiu a sobrevivência legal do PCP. Dias depois eu perguntava se teria de voltar de novo a usar o meu nome da semiclandestinidade e exigia a Mário de Carvalho que mais tarde me viesse a transmitir os nomes dos responsáveis políticos por tal esquerdalhada sem sentido.
Na entrevista e, ao de leve, Zita fala nisto, mas a entrevistadora também não percebe nada disto!
3. Nunca Cunhal convocou o Comité Central do PCP para autocrítica/crítica do desvio de esquerda. Não diagnosticou a doença e ninguém foi expurgado do CC. Pudera! Daí que nunca tivesse havido a nível parlamentar qualquer declaração formal do PCP quanto à sua deriva esquerdista e confiança no regime democrático, o que, por vezes, causa sérios engulhos, ainda hoje, a certos deputados do PCP. Zita Seabra, à época, membro do CC e deputada não sabia de nada? Tal como outros renovadores, só despertaram em 1988, quando, entretanto, entre 1982-1983, outros militantes já tinham sido expulsos ou saindo sem fazer ondas. E o PCP foi ficando exangue de quadros profissionais intermédios, que hoje o inibem de promover debates alargados na Saúde, na Educação...
Disse Zita que Cunhal era duro e que os membros do CC do PCP tinham também de ser duros e de comportamento espartano. Bem conheci funcionários do PCP, esquálidos, formados na URSS, a terem de aprovar as teses de Cunhal sem qualquer ai e a trabalhar para a revolução.. E também conheci funcionários a querer impor aos militantes as teses de Cunhal sem ai, nem ui... Parece que Zita Seabra e outros só se aperceberam das contradições do centralismo democrático e das dificuldades em democratizar internamente o PCP por volta de1988, o que é espantoso.
Não basta a desculpa da verticalidade, horizontalidade.
4. Claro que já não há amanhãs que cantam, nem uma classe redentora. Assim sendo, Zita foi parar ao PSD para gerir o capitalismo, mais ou menos liberal, e o PCP é um «sindicato de pequenas causas». Assim pensa «uma ex-mulher-a-dias» do PCP e é natural que assim seja.
5. O problema andará por aqui:- Com as novas tecnologias intercomunicacionais que partido fará a «tal» revolução? Ou seremos todos nós numa luta quotidiana e libertária? E se fossemos conversando para nos irmos entendendo?
A entrevista de Zita Seabra a Judite Sousa
1. Em fim de entrevista disse Zita Seabra a Judite de Sousa que «o PCP é hoje um sindicato de pequenas causas». O PPD/PSD, a que depois aderiu, deve ser um partido de grandes causas, entre elas a da implantação do capitalismo global... Quanto a pequenas causas recordo que na bancada parlamentar do PCP foi a paladina da intervenção voluntária na gravidez (IVG)... Na bancada do PPD/PSD a grande causa foi a «defesa da vida» e o ataque cerrado à IVG..
Depois de tantos anos de clandestinidade e de ascensão meteórica até ao Comité Central (CC) do PCP, talvez por razões funcionais e familiares, Zita Seabra acaba por dizer que hoje o PCP é «um sindicato de pequenas causas.» e que durante a clandestinidade foi «uma mulher-a-dias do PCP (DN8JUL07).
A propósito, recordo Camões: «Ditosa pátria que tais filhos teve».
2. Parece que Zita Seabra e outros que jantavam lá em casa às quartas - feiras só se aperceberam das contradições do PCP em se democratizar interna e externamente por volta de 1988, muito embora Zita e talvez os outros tivessem notícia de que outros camaradas já tinham sido expulsos em 1982-1983. Da Juventude foi expulso o jovem Pinto, por volta de 1983, conforme declarações ao Jornal de Letras. Distinguiu-se depois na banda desenhada «Tecnologia de Ponta». Zita não soube de nada pelos vistos...
Referiu Zita Seabra que o PCP não queria eleições em Abril, mas só as conseguiu adiar até 25ABR74. Esta discussão foi transversal ao PCP e «alguém» publicou em «O Século» alguns artigos a propósito. O resultado destas eleições foi um desaire para o PCP, até que em determinada altura se resolveu avançar com um reforço do movimento Povo/MFA, através dos Soldados Unidos Venceremos (SUV). O PCP contraiu uma doença infantil e entrou numa salganhada esquerdista que iria durar até Novembro. A partir daqui os dados estão lançados. Numa reunião em O Século, realizada pouco dias antes do golpe-antigolpe, e presidida por um suplente ao Comité Central, alguns militantes colocaram dúvidas sobre o caminho percorrido e a percorrer. A resposta foi que a revolução democrática e burguesa já lá ia e vinha aí a verdadeira revolução. Conclusão da reunião: «vamos então encher o saco ...»
Na entrevista diz Zita não ter compreendido a desmobilização dos estudantes, alguns armados nas suas casas/centros? E os outros militantes comunistas e simpatizantes concentrados nos Centros de Trabalho, que recebiam ordens contraditórias e que também acabaram por ser desmobilizados? Foi uma grande noite nos centros do PCP e nos dos PS... Otelo não aderiu, os para-quedistas acabaram por falhar e por aí fora... Não sei se Cunhal aterrou nessa noite em Lisboa, mas que não teve o apoio de Brejnev para a aventura não teve. Cunhal não era Trotski, nem Lénine e a frota da NATO navegava ao largo... Cunhal vislumbrou a derrota e recuou a tempo. Assim garantiu a sobrevivência legal do PCP. Dias depois eu perguntava se teria de voltar de novo a usar o meu nome da semiclandestinidade e exigia a Mário de Carvalho que mais tarde me viesse a transmitir os nomes dos responsáveis políticos por tal esquerdalhada sem sentido.
Na entrevista e, ao de leve, Zita fala nisto, mas a entrevistadora também não percebe nada disto!
3. Nunca Cunhal convocou o Comité Central do PCP para autocrítica/crítica do desvio de esquerda. Não diagnosticou a doença e ninguém foi expurgado do CC. Pudera! Daí que nunca tivesse havido a nível parlamentar qualquer declaração formal do PCP quanto à sua deriva esquerdista e confiança no regime democrático, o que, por vezes, causa sérios engulhos, ainda hoje, a certos deputados do PCP. Zita Seabra, à época, membro do CC e deputada não sabia de nada? Tal como outros renovadores, só despertaram em 1988, quando, entretanto, entre 1982-1983, outros militantes já tinham sido expulsos ou saindo sem fazer ondas. E o PCP foi ficando exangue de quadros profissionais intermédios, que hoje o inibem de promover debates alargados na Saúde, na Educação...
Disse Zita que Cunhal era duro e que os membros do CC do PCP tinham também de ser duros e de comportamento espartano. Bem conheci funcionários do PCP, esquálidos, formados na URSS, a terem de aprovar as teses de Cunhal sem qualquer ai e a trabalhar para a revolução.. E também conheci funcionários a querer impor aos militantes as teses de Cunhal sem ai, nem ui... Parece que Zita Seabra e outros só se aperceberam das contradições do centralismo democrático e das dificuldades em democratizar internamente o PCP por volta de1988, o que é espantoso.
Não basta a desculpa da verticalidade, horizontalidade.
4. Claro que já não há amanhãs que cantam, nem uma classe redentora. Assim sendo, Zita foi parar ao PSD para gerir o capitalismo, mais ou menos liberal, e o PCP é um «sindicato de pequenas causas». Assim pensa «uma ex-mulher-a-dias» do PCP e é natural que assim seja.
5. O problema andará por aqui:- Com as novas tecnologias intercomunicacionais que partido fará a «tal» revolução? Ou seremos todos nós numa luta quotidiana e libertária? E se fossemos conversando para nos irmos entendendo?
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