terça-feira, 12 de junho de 2007

A estranguladora da hora

Ontem, Fátima Campos Ferreira fez uma má acção: estrangulou a hora. Disse que, por medo, os emigrantes portugueses na Holanda, que lhe tinham assegurado o testemunho, não compareceram «à última da hora». A tortura começou pelas 22H54, mas como a hora tinha ficado a estrebuchar, deu-lhe mais um apertão, que definitivamente a matou pelas 23H16.
Deve dizer-se «à última hora».
Cuidado com a língua.

1 comentário:

Anónimo disse...

Ficávamos aqui quinze dias... Está a perder-se uma oportunidade fabulosa (mais uma, só mais uma) de falar bem a língua portuguesa (escrever dava para mais outros quinze... vezes quinze!). A televisão, ao entrar nas aldeias, em todas as casas para toda a gente, conseguiu diminuir, tirar (pelo menos aqui na minha aldeia, mas tenho percebido que é quase geral), até, a pronúncia regional das pessoas. Não quero aqui tecer considerações sobre se isso é bom ou mau – simplesmente, acontece. Visto noutro ângulo e considerando a língua uma coisa viva, sobretudo modificada por quem a não fala bem (olhem só, agora, “máculas” nas calças...), a televisão poderia manter, por muito mais tempo, a língua “estável”. Mas como, na mais baixa caganeira televisiva, no mais evoluído (que é deles?) programa de cultura (coltura?) e nos afiambrados intermédios, os locutores, as vozes profissionais, se saem com asneirada da pior, albarroados, númaro, puribidos, prujedicar, sei lá! E a conjugação reflexa? Lá vai ela! A gente para aqui, a gente para ali, pior, “a gente estamos”, “a gente conseguimos”. “Eu digo a ela”, “que eu peça a ela”, lá vai disto! Parte desta forma de falar vem directa das telenovelas. O conjuntivo, o conjuntivo que desapareceu do conhecimento das senhoras e senhores que usam o presente do indicativo em seu lugar, como os ingleses (desde que deixou de se dar nos quatro primeiros anos e passou para o programa do quinto, foi o que se vê)! O qué ca gente ade fazer? O há-des, lembrei-me do há-des! E do hádem! Há uns falantes profissionais da TV e da rádio que, de vez em quando, escorregam com estas! Isto para não falar nas frases futebolísticas “queremos ganhar, mas se não ganharmos é melhor empatar do que perder” cheias de lógica sapiência e da “faca de dois legumes”, tudo o que, avidamente, as pessoas ouvem e absorvem. E não quero falar nos professores, nem nos programas (“pogramas” na voz do nosso presidente – estou de pé, a fazer uma vénia – “pogresso”, também, e agora, no 10 de Junho, a ler Os Lusíadas (a ler, repito), “entre gente remota identificaram” como o novo penúltimo verso da primeira instância, Camões aos saltos dentro de mim. Sigamos a sombra! Ficávamos aqui quinze dias...